terça-feira, 5 de novembro de 2013

Porque os jovens profissionais da geração Y estão infelizes

Esta é a Ana.
Ana é parte da Geração Y, a geração de jovens nascidos entre o fim da década de 1970 e a metade da década de 1990. Ela também faz parte da cultura Yuppie, que representa uma grande parte da geração Y.
“Yuppie” é uma derivação da sigla “YUP”, expressão inglesa que significa “Young Urban Professional”, ou seja, Jovem Profissional Urbano. É usado para referir-se a jovens profissionais entre os 20 e os 40 anos de idade, geralmente de situação financeira intermediária entre a classe média e a classe alta. Os yuppies em geral possuem formação universitária, trabalham em suas profissões de formação e seguem as últimas tendências da moda. - Wikipedia
Eu dou um nome para yuppies da geração Y — costumo chamá-los de “Yuppies Especiais e Protagonistas da Geração Y”, ou “GYPSY” (Gen Y Protagonists & Special Yuppies). Um GYPSY é um tipo especial de yuppie, um tipo que se acha o personagem principal de uma história muito importante.
Então Ana está lá, curtindo sua vida de GYPSY, e ela gosta muito de ser a Ana. Só tem uma pequena coisinha atrapalhando:
Ana está meio infeliz.
Para entender a fundo o porquê de tal infelicidade, antes precisamos definir o que faz uma pessoa feliz, ou infeliz. É uma formula simples:
É muito simples — quando a realidade da vida de alguém está melhor do que essa pessoa estava esperando, ela está feliz. Quando a realidade acaba sendo pior do que as expectativas, essa pessoa está infeliz.
Para contextualizar melhor, vamos falar um pouco dos pais da Ana:
Os pais da Ana nasceram na década de 1950 — eles são “Baby Boomers“. Foram criados pelos avós da Ana, nascidos entre 1901 e 1924, e definitivamente não são GYPSYs.
Na época dos avós da Ana, eles eram obcecados com estabilidade econômica e criaram os pais dela para construir carreiras seguras e estáveis. Eles queriam que a grama dos pais dela crescesse mais verde e bonita do que eles as deles próprios. Algo assim:
Eles foram ensinados que nada podia os impedir de conseguir um gramado verde e exuberante em suas carreiras, mas que eles teriam que dedicar anos de trabalho duro para fazer isso acontecer.
Depois da fase de hippies insofríveis, os pais da Ana embarcaram em suas carreiras. Então nos anos 1970, 1980 e 1990, o mundo entrou numa era sem precedentes de prosperidade econômica. Os pais da Ana se saíram melhores do que esperavam, isso os deixou satisfeitos e otimistas.
Tendo uma vida mais suave e positiva do que seus próprios pais, os pais da Ana a criaram com um senso de otimismo e possibilidades infinitas. E eles não estavam sozinhos. Baby Boomers em todo o país e no mundo inteiro ensinaram seus filhos da geração Y que eles poderiam ser o que quisessem ser, induzindo assim a uma identidade de protagonista especial lá em seus sub-conscientes.
Isso deixou os GYPSYs se sentindo tremendamente esperançosos em relação à suas carreiras, ao ponto de aquele gramado verde de estabilidade e prosperidade, tão sonhado por seus pais, não ser mais suficiente. O gramado digno de um GYPSY também devia ter flores.
Isso nos leva ao primeiro fato sobre GYPSYs:
GYPSYs são ferozmente ambiciosos
President1
O GYPSY precisa de muito mais de sua carreira do que somente um gramado verde de prosperidade e estabilidade. O fato é, só um gramado verde não é lá tão único e extraordinário para um GYPSY. Enquanto seus pais queriam viver o sonho da prosperidade, os GYPSYs agora querem viver seu próprio sonho.
Cal Newport aponta que “seguir seu sonho” é uma frase que só apareceu nos últimos 20 anos, de acordo com o Ngram Viewer, uma ferramenta do Google que mostra quanto uma determinada frase aparece em textos impressos num certo período de tempo. Essa mesma ferramenta mostra que a frase “carreira estável” saiu de moda, e  também que a frase “realização profissional” está muito popular.
Para resumir, GYPSYs também querem prosperidade econômica assim como seus pais – eles só querem também se sentir realizados em suas carreiras, uma coisa que seus pais não pensavam muito.
Mas outra coisa está acontecendo. Enquanto os objetivos de carreira da geração Y se tornaram muito mais específicos e ambiciosos, uma segunda ideia foi ensinada à Ana durante toda sua infância:
Este é provavelmente uma boa hora para falar do nosso segundo fato sobre os GYPSYs:
GYPSYs vivem uma ilusão
Na cabeça de Ana passa o seguinte pensamento: “mas é claro… todo mundo vai ter uma boa carreira, mas como eu sou prodigiosamente magnífica, de um jeito fora do comum, minha vida profissional vai se destacar na multidão”. Então se uma geração inteira tem como objetivo um gramado verde e com flores, cada indivíduo GYPSY acaba pensando que está predestinado a ter algo ainda melhor:
Um unicórnio reluzente pairando sobre um gramado florido.
Mas por que isso é uma ilusão? Por que isso é o que cada GYPSY pensa, o que põe em xeque a definição de especial:

es-pe-ci-al | adjetivo
melhor, maior, ou de algum modo
diferente do que é comum
De acordo com esta definição, a maioria das pessoas não são especiais, ou então “especial” não significaria nada.
Mesmo depois disso, os GYPSYs lendo isto estão pensando, “bom argumento… mas eu realmente sou um desses poucos especiais” – e aí está o problema.
Uma outra ilusão é montada pelos GYPSYs quando eles adentram o mercado de trabalho. Enquanto os pais da Ana acreditavam que muitos anos de trabalho duro eventualmente os renderiam uma grande carreira, Ana acredita que uma grande carreira é um destino óbvio e natural para alguém tão excepcional como ela, e para ela é só questão de tempo e escolher qual caminho seguir. Suas expectativas pré-trabalho são mais ou menos assim:
Infelizmente, o mundo não é um lugar tão fácil assim, e curiosamente carreiras tendem a ser muito difíceis. Grandes carreiras consomem anos de sangue, suor e lágrimas para se construir – mesmo aquelas sem flores e unicórnios – e mesmo as pessoas mais bem sucedidas raramente vão estar fazendo algo grande e importante nos seus vinte e poucos anos.
Mas os GYPSYs não vão apenas aceitar isso tão facilmente.
Paul Harvey, um professor da Universidade de New Hampshire, nos Estados Unidos, e expert em GYPSYs, fez uma pesquisa onde conclui que a geração Y tem “expectativas fora da realidade e uma grande resistência em aceitar críticas negativas” e “uma visão inflada sobre si mesmo”. Ele diz que “uma grande fonte de frustrações de pessoas com forte senso de grandeza são as expectativas não alcançadas. Elas geralmente se sentem merecedoras de respeito e recompensa que não estão de acordo com seus níveis de habilidade e esforço, e talvez não obtenham o nível de respeito e recompensa que estão esperando”.
Para aqueles contratando membros da geração Y, Harvey sugere fazer a seguinte pergunta durante uma entrevista de emprego: “Você geralmente se sente superior aos seus colegas de trabalho/faculdade, e se sim, por quê?”. Ele diz que “se o candidato responde sim para a primeira parte mas se enrola com o porquê, talvez haja um senso inflado de grandeza. Isso é por que a percepção da grandeza é geralmente baseada num senso infundado de superioridade e merecimento. Eles são levados a acreditar, talvez por causa dos constantes e ávidos exercícios de construção de auto-estima durante a infância, que eles são de alguma maneira especiais, mas na maioria das vezes faltam justificativas reais para essa convicção”.
E como o mundo real considera o merecimento um fator importante, depois de alguns anos de formada, Ana se econtra aqui:
A extrema ambição de Ana, combinada com a arrogância, fruto da ilusão sobre quem ela realmente é, faz ela ter expectativas extremamente altas, mesmo sobre os primeiros anos após a saída da faculdade. Mas a realidade não condiz com suas expectativas, deixando o resultado da equação “realidade – expectativas = felicidade” no negativo.
E a coisa só piora. Além disso tudo, os GYPSYs tem um outro problema, que se aplica a toda sua geração:
GYPSYs estão sendo atormentados
Obviamente, alguns colegas de classe dos pais da Ana, da época do ensino médio ou da faculdade, acabaram sendo mais bem-sucedidos do que eles. E embora eles tenham ouvido falar algo sobre seus colegas de tempos em tempos, através de esporádicas conversas, na maior parte do tempo eles não sabiam realmente o que estava se passando na carreira das outras pessoas.
A Ana, por outro lado, se vê constantemente atormentada por um fenômeno moderno: Compartilhamento de Fotos no Facebook.
As redes sociais criam um mundo para a Ana onde: A) tudo o que as outras pessoas estão fazendo é público e visível à todos, B) a maioria das pessoas expõe uma versão maquiada e melhorada de si mesmos e de suas realidades, e C) as pessoas que expôe mais suas carreiras (ou relacionamentos) são as pessoas que estão indo melhor, enquanto as pessoas que estão tendo dificuldades tendem a não expor sua situação. Isso faz Ana achar, erroneamente, que todas as outras pessoas estão indo super bem em suas vidas, só piorando seu tormento.
Então é por isso que Ana está infeliz, ou pelo menos, se sentindo um pouco frustrada e insatisfeita. Na verdade, seu início de carreira provavelmente está indo muito bem, mas mesmo assim, ela se sente desapontada.
Aqui vão meus conselhos para Ana:
1) Continue ferozmente ambiciosa. O mundo atual está borbulhando de oportunidades para pessoas ambiciosas conseguirem sucesso e realização profissional. O caminho específico ainda pode estar incerto, mas ele vai se acertar com o tempo, apenas entre de cabeça em algo que você goste.
2) Pare de pensar que você é especial. O fato é que, neste momento, você não é especial. Você é outro jovem profissional inexperiente que não tem muito para oferecer ainda. Você pode se tornar especial trabalhando duro por bastante tempo.
3) Ignore todas as outras pessoas. Essa impressão de que o gramado do vizinho sempre é mais verde não é de hoje, mas no mundo da auto-afirmação via redes sociais em que vivemos, o gramado do vizinho parece um campo florido maravilhoso. A verdade é que todas as outras pessoas estão igualmente indecisas, duvidando de si mesmas, e frustradas, assim como você, e se você apenas se dedicar às suas coisas, você nunca terá razão pra invejar os outros.

by: http://qga.com.br/comportamento/jovem/2013/09/porque-os-jovens-profissionais-da-geracao-y-estao-infelizes 

sábado, 3 de agosto de 2013

A arte do encantamento


Fala sério! Há quanto tempo você não lê um livro diferente, do início ao fim, sem ser interrompido pelo toque do celular ou pelo sinal de um novo e-mail na caixa de entrada? Pensando bem, quantos livros você já leu até hoje, sem contar aqueles obrigatórios do ensino fundamental ou do vestibular?
Encantamento, de Guy Kawasaki, é um desses livros que vai mudar o seu jeito de avaliar e fazer as coisas. Começa pela capa dura, bem produzida, maneiríssima, ilustrada com uma borboleta simples feita em origami, tradicional técnica da arte japonesa. Simples e encantadora.
Guy Kawasaki é um daqueles sujeitos que você aprende a gostar logo de cara. Por mais de vinte anos, ele foi evangelista-chefe da Apple, uma das empresas mais admiradas do mundo, e criador da Alltop, livraria com revistas on-line que aborda os assuntos populares da web. É uma figura carismática, antenada, com milhares de seguidores no Twitter e uma página encantadora no Facebook.
Encantamento, como diz o próprio Kawasaki, não envolve a manipulação das pessoas, por meio de propagandas enganosas nem sofisticados recursos de mídia, mas sim a transformação positiva de situações e relacionamentos. Converte a hostilidade em civilidade e a civilidade em afinidade permanente, competência escassa nos dias de hoje.
A meta não deve ser apenas alcançar um objetivo, mas sim obter uma mudança voluntária, duradoura e agradável nas outras pessoas. E, aqui entre nós, não é fácil mudar os outros quando você mesmo não está disposto a mudar.
Quer mudar o mundo? Quer transformar lagartas em borboletas? Construir uma história de vida interessante? Isso não será possível nas baladas, nas mesinhas de bar, nas andanças pelo shopping. Para que isso aconteça, é necessário mais do que relacionamentos comuns. É necessário convencer as pessoas a sonhar o seu sonho.
Essa é uma meta desafiadora que pode ser alcançada por qualquer pessoa na face da Terra, porém, antes de tudo, você precisa mudar radicalmente o seu discurso e a sua forma de se comunicar com o público, se qual for o seu projeto.
Quando você é jovem, a coisa mais importante do mundo é ganhar dinheiro, ter sucesso na vida e no trabalho, ser admirado pelos amigos. Quase tudo o que se faz vai de encontro a uma necessidade explícita de autoafirmação e posicionamento perante os amigos e a família.
Na medida em que você envelhece, você se dá conta de que dinheiro é bom, mas não é tão importante; sucesso é bom, mas não é tudo que você gostaria de ter; ser admirado é bom, mas, se você não é admirado pela família, isso não faz diferença alguma.
Por que o Encantamento? Segundo Kawasaki, quanto maiores forem as suas metas, maior será a sua necessidade de modificar os corações, as mentes e as ações das pessoas. Isso ocorre principalmente quando você tem poucos recursos e grandes concorrentes. Se você precisa encantar as pessoas é porque está realizando algo significativo. Se estiver fazendo algo significativo, você precisa de encantamento.
De maneira geral, o livro é dedicado às pessoas que veem a vida pelo que ela pode ser e não pelo que não pode. Seja qual for a sua causa – produto, serviço, ideia ou organização -, você vai precisar muito mais do que relações instantâneas, rasas e temporárias para conseguir o engajamento das pessoas.
Já aconteceu de você se encantar por alguém ou por alguma empresa que não gosta? Duvido. Para que isso aconteça é necessário uma troca de energia positiva entre você e a pessoa, você e a empresa, você e a ideia que lhe foi apresentada, você e a organização em que trabalha.
Se você já empreende ou está pensando em empreender, não se descuide da arte do encantamento, seja com o seu produto, seja com o seu atendimento. Nas redes sociais, então, nem se fala. São poucos os que lhe conhecem ao vivo, porém, são muitos os que se encantam ou desencantam apenas com os primeiros segundos de olho no seu post.
Encantamento é um processo e não um simples evento. Deve ser construído com base no sonho e na causa e não apenas na simples vontade de ganhar dinheiro. Ao ler o livro, descobre-se porque é necessário aceitar as pessoas e também descobrir algo que você goste em cada uma delas para se tornar uma pessoa encantadora.
Pense nisso e empreenda mais e melhor!
texto de: Jerônimo Mendes
fonte: http://www.administradores.com.br/artigos/administracao-e-negocios/a-arte-do-encantamento/69708/# 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Os Usuários Invisíveis: como a internet excluiu um continente


O texto que segue foi originalmente publicado em papodehomem.com.br
Quando me mudei para um bairro tradicional de imigrantes em Lyon, passei a ter um contato muito maior com estrangeiros de toda parte do mundo. Na França, a maior parte dos trabalhadores estrangeiros é oriunda de países africanos: nigerianos, senegaleses, algerianos e muitos outros; dessa maneira, passei a seguir de perto seus hábitos e frequentar quase que diariamente seus espaços de convivência.
Certa vez notei as dificuldades de uma amiga do Quênia de acessar certos serviços em seu smartphone. Foi ouvindo seu relato e depois pesquisando que descobri que a sempre democrática internet havia segregado um continente quase inteiro da sua rede.
A Internet não liga pro continente africano
A Internet não liga pro continente africano
Com a popularização dos computadores no final do século XX e começo do XXI, passamos a acreditar veementemente na democratização do conhecimento. Falamos em um mundo onde a velha mídia não detinha mais poder absoluto sobre a informação e onde você não precisava convencer uma editora para que as pessoas lessem aquilo que você escreve. Esta idealização da internet é uma ideia um tanto bonita, porém muito utópica e que não leva em conta restrições de classe social e especificidades regionais.
No caso de países em desenvolvimento (termo que eu detesto, já que ele assume que certo países pararam no tempo) como o Brasil, esta questão não é tão clara quanto na Europa e na América do Norte. Ainda que a cultura da internet esteja presente nas classes sociais mais pobres (entre os jovens), ela engatinha de maneira lenta, tendo seu acesso muitas vezes limitado a redes sociais populares. O quadro parece ser muito mais agravante quando olhamos para o continente africano e para certos países asiáticos de regimes autoritários.
O autor estadunidense Thomas Friedman, em seu livro The World is Flat (O mundo é Plano), lançado em 2007, alega que este seria o novo estado do planeta, já que vivemos em uma era onde as pessoas podem “se conectar, jogar, competir, se informar, falar e colaborar de maneira mais igualitária”. Sua opinião sobre tecnologia é uma grande representação do que é chamada de “ideologia californiana”, que diz que a internet criou um campo de disputas limpo e igualitário para a manifestação de opiniões e o acesso de informação.
No entanto, o que funciona para a Califórnia não é necessariamente verdade para o resto do globo.
O governo Chinês (e outros governos autoritários na Ásia como a Coréia do Norte e o Vietnã) são bons exemplos de lugares onde uma pessoa não pode simplesmente usar o Twitter ou buscar informações sobre certos assuntos no Google. No entanto, o caso destes países é particular porque se trata de um problema político, onde é necessário conquistar uma abertura maior para estabelecer este “paradigma do mundo plano”.
Computadores de segunda mão são tudo o que eles possuem pra se "conectar" com um mundo que não lembra deles
Computadores de segunda mão são tudo o que eles possuem pra se “conectar” com um mundo que não lembra deles
O continente Africano se mostra um caso muito mais complexo. Primeiro porque é muito difícil falar do dele num âmbito generalista, dado o seu tamanho e suas infinitas especificidades. A segunda razão é que, ao contrário dos problemas de censura, aqui temos outros fatores que se tornam obstáculos, desde a precariedade da infraestrutura até o posicionamento das demais regiões do globo em relação ao continente africano.
Em particular, a África subsaariana parece ser um lugar que não existe para o mundo da internet.  A britânica Jenna Burrell, em seu livro Invisible users (Usuários Invisíveis), nos conta a respeito de sua experiência em Gana, nas Lan houses de Accra, onde a autora realizou um estudo acerca dos jovens usuários de Internet locais.
A primeira especificidade que notamos sobre Gana e sobre a maior parte dos países da região (Costa do Marfim, Benin e etc) é que o uso do computador é mais comum em Lan houses e cyber cafés do que em casa. Este locais, normalmente montados com PCs de segunda mão vindos da Europa ou da América, concentram todos os dias uma boa quantidade da população jovem da região, que vê nestes cafés a melhor oportunidade de acessar redes sociais e trocar mensagens com seus amigos.
A pobreza e a precariedade de condições não são os únicos empecilhos. Quase todos os países da África Subsaariana tem economias completamente baseadas em dinheiro físico, o que restringe completamente a possibilidade destes jovens de comprar coisas pela rede. Mesmo que a cultura dos cartões de crédito chegue um dia até lá, os sites ocidentais parecem ter uma visão extremamente negativa do continente, e normalmente consideram qualquer visitante ou usuário africano como algum tipo de calote ou tentativa de fraude virtual.
A autora Jenna Burrell descobriu isto da pior maneira possível, durante a sua pesquisa, quando ela tentou acessar a gigante Amazon (que mesmo durante viagens pela América Latina ou a Europa é facilmente acessível) e o site imediatamente resetou o seu password e começou a mandar avisos para o seu email sobre um possível hackeamento.
O Paypal fez mais ou menos a mesma coisa, dizendo que não trabalhava na região e a levaram a completar uma série de medidas de segurança que terminaram com uma verificação pelo celular estadunidense da autora, que obviamente não funcionava em Gana.
Um dos vários cafés pra acessar a Internet
Um dos vários cafés pra acessar a Internet
Boa parte do trabalho de Burell consistiu de acompanhar diariamente a vida destes jovens em Gana, procurando saber mais sobre suas estórias e motivações. Antes da chegada da Internet, era muito comum que estes meninos tivessem amigos por correspondência no exterior e eles usam a rede para tentar reproduzir este tipo de experiência, usando sites como o Yahoo Chat.
Outros jovens procuram pessoas para fazer negócios ou entrar em contato com os amigos. No entanto, as barreiras culturais parecem sempre ser grandes e levar a pequenos desentendimentos de ambas as partes. Um rapaz reclamou que seus correspondentes não entendiam direito o que ele queria. O mal entendido ocorreu quando ele decidiu entrar em salas de bate-papo cristãs para procurar parceiros de negócios, pois acreditava que os cristãos seriam honrados em seus compromissos. No entanto, o jovem de Gana não obteve nenhum sucesso até perceber que todos as outras pessoas conectadas só queriam discutir a bíblia.
Uma garota afirmou que costumava procurar relações com pessoas que estariam dispostas a lhe dar presentes. Normalmente, isso gerava uma reação muito negativa com os usuários europeus ou estadunidenses. O tópico claramente soaria estranho para brasileiros também, que pensariam se tratar de algum tipo de esquema. No entanto, para a cultura de Gana e da Nigéria, a troca de presentes é um dos aspectos mais básicos e comuns do cotidiano. Muitos jovens não conseguiam entender bem o porquê dos pedidos por presentes resultarem em bloqueios e expulsões quase que imediatas das conversas e salas de bate-papo.
Estas descontinuidades culturais também são reforçadas pela grande assimetria material, a percepção simplista da riqueza do ocidente e da pobreza na África, e também pela forma apressada e direta de falar destes africanos, que por não terem computadores em casa, são obrigados a pagar por minuto sua conexão.
O problema maior é que de simples dificuldades de comunicação a internet parece ter entrado em um âmbito ainda pior, a completa exclusão de determinadas regiões do globo baseadas tão somente em mecanismos de geolocalização. Isso ocorre, por exemplo, com boa parte dos sites internacionais de relacionamentos, que efetivamente bloquearam países como Gana e a Nigéria e não podem ser acessados de lá.
Para os residentes desta parte da África subsaariana, existem dois tipos diferentes exclusão:
  • A falha na hora de incluir estas culturas;
  • O bloqueio completo.
Estar na frente de um computador, na África subsaariana não garante contato direto com o mundo
Estar na frente de um computador, na África subsaariana não garante contato direto com o mundo
No primeiro caso, temos o ecommerce como um todo, que não possui soluções para integrar uma economia baseada em dinheiro vivo (como cartões-presente adquiridos em lojas físicas). Representando o bloqueio completo, temos sites como Amazon, Paypal, todos os produtos da Apple, Plentyoffish e etc, que não podem ser acessados desta região do globo. O blogueiro nascido em Gana, Koranteng, que mantém um blog sobre a questão, sumarizou o problema:
“Se nós levarmos em conta que o ecommerce é um componente para cidadania moderna global, nós africanos somos todos uma espécie de imigrantes ilegais e nossa participação na modernidade é, no máximo, marginal.”
Estes exemplos mostram que os jovens internautas africanos se vêem completamente excluídos de alguns dos recursos mais simples da internet, coisas que mesmo em países como o Brasil são consideradas mais do que normais.
Esperamos que esta situação seja provisória e que, com o constante barateamento da tecnologia digital, este quadro possa ser revertido.
Hoje já vemos que tanto a África do Norte quanto a África do Sul avançaram significativamente neste território. A Primavera Árabe, como movimento político, poderia não ter decolado sem a ajuda de uma classe jovem que decidiu usar a internet como ferramenta para se encontrar, marcar e organizar protestos.
Se os países do ocidente começarem a reconhecer os africanos subsaarianos em termos de maior igualdade, ou até mesmo enxergá-los como um mercado em potencial, estaremos mais próximos do sonhado “Mundo Plano” que Thomas Friedman declarou em 2007.
Felipe Velloso

Carioca erradicado na França, Felipe Velloso se formou em História, mas largou os tomos empoeirados e os arquivos para viver a vida de redator e escritor. Apaixonado por quadrinhos, games, literatura e cinema, Felipe hoje se prostitui de maneira literária pelo velho continente.

Outros artigos escritos por 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Governo anuncia medidas para desonerar produção de etanol...

Governo anuncia medidas para desonerar produção de etanol...
Governo anuncia medidas para desonerar produção de tablets...
Governo anuncia medidas para desonerar produção de carros...
Governo anuncia medidas para desonerar produção de linha branca...
Governo anuncia medidas para desonerar produção de celulares...
Governo anuncia medidas para desonerar produção de quê?

Sim, tudo muito bom, extremamente positivo, mas para quem? E até quando?
Quanto pagaremos por tudo isso mais à frente?

Medidas emergenciais? Emergentes a que?

Tudo muito bom, mas sem um interesse sequer em uma reforma fiscal, tudo isso acarretará um preço, e, esperamos, não muito alto.

Quanto vai custar estes "baldes d'água" eleitoreiros?

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Visita...

Bom, o que postar? Há muito que nem eu passava mais por aqui, quanto mais pensar em ver alguém lendo algo aqui. Penso que não sou o melhor nestas divulgações, mas continuo...Afinal, trata-se de um exercício. Para mim é importante exercitar a escrita, curto bastante isto.
Tenho a intenção de estar presente, continuar postando, mesmo que só eu leia, mas continuarei...quem sabe não encontro mais algum "maluco" por aqui?